Sophia Abrahão e Malu Rodrigues não são mais as garotinhas que interpretam no aguardado longa Confissões de Adolescente, baseado no livro homônimo da atriz e escritora Maria Mariana, que estreia nos cinemas nesta sexta-feira (10). Apesar de ainda bastante novas - 22 e 20 anos, respectivamente -, ambas passaram a última década concentradas em diversos trabalhos, seja na televisão, no teatro ou na música, e conquistaram a independência e a maturidade tão próprias de mulheres crescidas, adultas. Mas o semblante adolescente, o sorriso de quem mantém a alegria e simplicidade daqueles que desconhecem as grandes responsabilidades, continua ali. Principalmente quando o assunto envolve lembranças ou temas considerados por elas tabus, ainda hoje responsáveis por corar seus rostos, em fase de ascensão na dramaturgia brasileira.
"Ai, pra mim foi a pior coisa do filme", se diverte, às gargalhadas, Sophia, recordando da cena de nudez que precisou gravar para o longa e com a qual ainda se envergonha, escancarando sentimentos tão próprios de uma menina caminhando para se tornar mulher. "Sou muito tímida para essas coisas", ela explica - e compara a situação à primeira cena que gravou na versão brasileira da novela Rebelde, em 2011, na qual precisou fazer um striptease em frente a amigos de colégio de sua então personagem. "Eu chorava tanto para filmar aquilo. A produção teve que me arrastar para a cena. Tenho muita vergonha de não ter a menor intimidade com as pessoas e, de repente, estar ali, de calcinha. Realmente tenho um bloqueio com isso."
Lançado exatamente 20 anos depois da estreia da série homônima na TV Cultura - a mesma que revelou ao Brasil a atriz Deborah Secco, na época ainda pré-adolescente -, o longa Confissões de Adolescente segue a mesma lógica do livro, da peça e do seriado em que foi inspirado. A diferença é que a nova história é adaptada para a realidade dos conturbados e pouco discretos tempos tecnológicos atuais.
Com ritmo acelerado e pitadas de humor bem sacadas, em 1h30 a produção mostra a vida de quatro adolescentes, com idades entre 12 e 19 anos, destacando os percalços tão próprios dessa fase, como virgindade, primeiro beijo, bullying, homossexualidade e desprendimento da família. Problemas tão comuns para quem quer que já tenha passado pelo período, com pano de fundo para os dias marcados por redes sociais e a cada vez mais distante privacidade de cada um devido à exposição que tais meios acabam proporcionando à vida das pessoas.
"São coisas pelas quais todo mundo passa, independente da época em que estiver", observa Malu, estreante no cinema que ganhou destaque midiático graças a suas atuações em musicais como O Mágico de Oz, A Noviça Rebelde e Um Violinista no Telhado. "Não existe uma coisa do tipo 'não dei o primeiro beijo!' Se existir, é porque tem alguma coisa errada", se diverte a atriz, uma loira franzina de sorriso largo, intérprete no longa de Aline, garota mais jovem que ela, de 16 anos, cuja principal característica é o medo que a leva a adiar o quanto possível a primeira vez com o namorado. "São conflitos próximos de todo mundo", continua Sophia. "Para um adolescente de 12 anos, ver a Tina (sua personagem) sair de casa para ir à faculdade é uma coisa muito distante. Mas tudo isso passa rápido e existem as personagens que também estão nessa fase da vida. Todo mundo passou ou passará por aquilo que o filme aborda."
Da série, o longa empresta não somente o diretor Daniel Filho, o ritmo acelerado e os assuntos tão caros à adolescência. Entre os nomes de sucesso que participam da produção - como Tiago Lacerda e Caio Castro, em pequenas pontas -, o elenco conta com a especial presença das quatro protagonistas da atração na TV: além de Secco, Maria Mariana, Daniele Valente e Georgiana Góes, que fazem papéis, ora bem humorados ora dramáticos, de mães e/ou professoras - Luis Gustavo, o pai das então jovens atrizes no programa, foi substituído por Cássio Gabus Mendes. Nomes cuja importância somente agora as novas "adolescentes" começam a entender.
"A gente só teve mais noção da força da série recentemente", observa Sophia, pensativa. "Porque as pessoas para quem contamos que fizemos o filme ficam ensandecidas com a notícia. Percebemos que Confissõesrealmente marcou uma geração". Malu, que ainda sequer havia completado 1 ano de idade quando da estreia da atração em rede nacional, concorda. "Hoje mesmo, se você coloca qualquer anúncio do longa no Facebook, professoras ou qualquer pessoa mais velha vem e fala, 'ai, eu assistia muito e quero muito ver. Quando estreia?'", conta.
A diferença básica entre os dois produtos é que, nas telonas, o longa tem a oportunidade de abordar assuntos cotidianos com uma liberdade impensada para a televisão aberta de duas décadas atrás. Isso inclui, naturalmente, as cenas de nudez, protagonizadas por ambas as atrizes. E que até nisso deixam claro como cada garota, cada pessoa, tem uma particularidade intrínseca à sua personalidade - algo caro não só a adolescentes, mas a qualquer faixa etária.
Se Sophia sofreu para mostrar os seios da forma tão natural como faz em frente às câmeras, Malu não viu muito problema em filmar uma cena de sexo, na qual dividiu a cama com três homens diferentes. "É claro que você fica nervosa, meio sem graça. Mas o Daniel (Filho) foi super fofo, assim como os meninos, e todo o momento foi tratado com muito carinho", ela diz, satisfeita.
A colega a observa, demonstrando com o olhar e a cabeça certa admiração pela coragem da atriz em lidar com esse tipo de trabalho. Sophia, diferente de Malu, desde o início indagada se toparia mostrar os seios no longa, desconhecia o fato de que teria de se expor de tal maneira até a véspera da filmagem da cena. Talvez sua própria timidez, quem sabe percebida pela produção da trama, tenha sido o motivo para não ter sido avisada do desafio ao aceitar o papel. Que ela, no fim das contas, realizou. Está lá, registrado no longa.
A jovem, então, recorda-se do momento em que filmou a simulação de striptease, três anos atrás, quando caiu aos prantos diante de toda a equipe de Rebeldes. Nem foi há tanto tempo e, ainda assim, tanta coisa parece ter mudado, amadurecido. Ela pensa na evolução de sua carreira, da sua vida. E sorri: "mas desta vez eu não chorei".
Fonte: Terra
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