sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Apesar de algumas boas atuações, ‘Dona Xepa’ se mostra anacrônica:



Adaptar uma obra é tarefa que requer certos cuidados. Entre eles, tornar as questões da trama atuais talvez seja o mais importante. No caso de Dona Xepa, esse conceito parece ter sido deixado de lado. Apesar de ser ambientada nos dias de hoje, a novela assinada por Gustavo Reiz trabalha, essencialmente, com temas e personagens um tanto anacrônicos. Desta forma, o folhetim desperdiça a chance de inovar ao tratar seu tema central, já revisitado outras vezes na televisão brasileira – primeiro no folhetim homônimo, escrito por Gilberto Braga em 1977, e depois na novela Lua Cheia de Amor, de 1990 –, sem originalidade. Em meio a uma série de personagens caricatos, Thais Fersoza e Arthur Aguiar se destacam em seus respectivos papéis. Suas atuações comprovam que os dois foram as escolhas certas para dar vida ao casal de irmãos Rosália e Édison. Prova disso é que a inescrupulosa filha de Xepa, interpretada por Ângela Leal, tem centralizado as atenções do folhetim. Até porque, por ter a possibilidade de transitar em núcleos diferentes, a alpinista social é a principal responsável por movimentar a trama. E mesmo encarnando uma vilã maniqueísta, Fersoza consegue encontrar o tom de sua personagem de forma crível.

Já o personagem de Arthur Aguiar desenvolve um perfil mais naturalista. Enquanto demonstra ter um caráter íntegro para diversos aspectos de sua vida, também rejeita a própria mãe por ter vergonha de sua classe social. Tal conflito interno atribui a Édison um posicionamento mais realista que o de sua irmã. E o ator tem mostrado uma performance interessante diante das câmeras, com ênfase nas cenas em que contracena com Fersoza. A típica rivalidade fraternal, aliada às desconfianças que o estudante de arquitetura tem sobre o caráter da irmã, tornam suas sequências juntos um dos pontos altos da novela.

Enquanto isso, com sotaque forçado além dos limites e texto recheado de clichês, Ângela Leal conseguiu captar a essência de Xepa e abraça os exageros de sua personagem sem medo da caricatura. A atriz veterana dá à protagonista contornos bem-humorados, o que parece ser o melhor caminho a seguir quando se trata de um papel com referências tão ultrapassadas. No entanto, nem mesmo os 43 anos de experiência em teledramaturgia de Ângela poderiam salvar seu papel. Já que o apelo popularesco definido para Xepa se encontra fora dos paradigmas atuais, o que impede que a personagem caia nas graças do público.

Além da trama pouco atual, Dona Xepa também investe no colorido e na leveza típicas das produções do horário das sete. No entanto, é exibido pela emissora na faixa das 22h, na contramão do esperado pelo público. Talvez por isso, esteja com dificuldade para alcançar dois dígitos de audiência e marque, em média, nove pontos no Ibope. A pouco mais de um mês para seu final, o folhetim foi um aposta ousada da Record que, de fato, não correspondeu às expectativas.

Fonte: Terra

0 comentários:

Postar um comentário

0 comentários:

Postar um comentário